sexta-feira, fevereiro 23, 2007

As cinzas ( continuação )

E tu apanhaste as minhas cinzas. Vagueaste ruas e ruas e recolheste as minhas cinzas. Levaste as minhas cinzas e puseste-as no cinzeiro em forma de coração que está em cima da tua escrivaninha, no teu quarto.

Eu ressuscitei no teu cinzeiro em forma de coração. Ressuscitei e senti. Senti sem coração, mas senti. O meu corpo de cinzas amontoado sentiu o calor do teu cinzeiro em forma de coração, o meu corpo gélido formado de cinzas sentiu o conforto caloroso do teu cinzeiro de lata em forma de coração. O meu corpo de cinzas só sobrevive graças ao cigarro invisível que tu fumas. O cigarro invisível que tu fumas dá há luz novas cinzas que se sobrepõem no meu corpo formando novas camadas, estas que me vão alongando a vida. Enquanto fumares cigarros invisíveis e me deres o teu cinzeiro de lata em forma de coração, eu vou sobrevivendo.

O teu cigarro invisível é imortal (espero eu), e dá há luz continuamente, cinzas que vão caindo sobre o meu corpo de cinzas, formando camadas atrás de camadas revitalizando progressivamente o meu mar de cinzas no espaço oceânico do cinzeiro em forma de coração. De vez em quando, quando tu sais do teu quarto, no oceano do meu corpo vê-se embarcações de podridão a navegar por lá, mas quando regressas, usas o teu suave e cuidadoso sopro e afastas os navios podres. Nunca transbordou uma única gota de cinzas para fora. Nunca nunca, tu és o ser mais cuidadoso do mundo. Quando tornas a sair eu apodreço de novo, eu não tenho coração, mas o teu cinzeiro em forma faz-me sentir. Só quando regressas é que ganho de novo a percepção. Quando sopras.

Enquanto estiveres comigo, enquanto eu sentir o cinzeiro de lata em forma de coração, o teu coração, eu não vou precisar de um coração próprio. Tu és a ampulheta que controla os meus grãos de cinza, o meu tempo de vida.

( Este texto é uma espécie de continuação do texto anterior (Três Cigarros), não contava dar-lhe uma continuidade, mas reflexões e espécie de necessidade levaram-me a fazê-lo. Talvez um dia, quando houver motivos para tal, eu escreva o terceiro e último "capítulo". Por enquanto vai ficar assim )

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

vou so dizer uma coisa: li e... prometo q venho aqui mais vezes ^^

bjs

6:41 da tarde  
Blogger Yan said...

mas no 3º capitulo ... não te arrastes nem te percas. escreve só quand ofor preciso. geralemnte quando as coisas nao me saem e as quero acabr a pressa por algum motivo sai merda.
O que escreveste está bem conseguido. tenho que ler outra vez.
um abraço amigo

9:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bem!!! És mesmo tu que escreves isso? É algo que te sai do imaginário ou apenas narras estórias vividas por ti?
Bom vou acalmar-m com as perguntas lol
GOSTEI DO QUE LI...!!!
XAU
FIKA BEM

PS: Passa no meu se te apetecer, eu não escrevo postes com a mesma qualidade mas como sou um debutante nestas coisas espero melhorar

10:03 da tarde  

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