sábado, dezembro 09, 2006

Final=Princípio

Era uma simples noite de verão, eu tinha encontrava-me em casa, estava perdido, não tinha nada para fazer, estava preso a um vazio que era inexistente, perante tal aborrecimento decidi sair de casa.
Saí do apartamento, morava no 5º andar, optei descer pelas escadas, a maneira como o fiz era bastante irregular, já andava aos “ésses”, eram os efeitos do álcool a fazer-se sentir, mas eu ainda estava coerente, tinha consciência da desilusão que ela me deu.
Estava uma típica noite de verão, era bastante abafada, podia-se avistar várias pessoas na rua, o clima era convidativo a isso, visualizava-se uma mista de luzes dos candeeiros e automóveis, com as animadas conversas de fundo das pessoas, e eu ali como um vagabundo solitário, a prosseguir o meu percurso sem destino, tudo me passava ao lado.
Eu não sabia ao certo o que procurava, era como se sentisse que as pessoas á minha volta me vissem como um “allien”, no entanto isso era uma ilusão minha, elas ignoravam-me totalmente, mas eu sentia-me o pior ser do mundo, parecia que tudo me queria sentenciar.
Após ter caminhado uns bons minutos consecutivos, cheguei a certa altura que já não avistava ninguém, apenas conseguia ouvir o relaxante som das ondas, dava para ver perfeitamente o reflexo da lua no mar, o céu estava bem estrelado, possivelmente haviam vários casais de namorados na praia, daí eu ter ponderado não ir para o interior da praia, supunha que eles estariam lá, eu não queria incomodar ninguém, da mesma maneira que procurava o mesmo, era assim que eu pensava, na igualdade, “ o que eu quero, os outros também têm direito”, é como uma espécie de justiça.
Indignado com o pressuposto de encontrar alguém na praia prossegui mais uma vez o meu caminho, já era visível algum cansaço nas minhas pernas, se passasse a minha mão na face, ela ia ficar encharcada, encontrava-me totalmente suado, isso devia-se á mistura da abafada noite, com os efeitos de álcool e aos minutos a fio que já tinha caminhado, eu já me encontrava próximo de um farol que existia próximo da praia, decidi caminhar em direcção ao mesmo, estava estafado, achei aquele ser um bom sítio para repousar, já para não falar que dali dava para ver perfeitamente as estrelas e no horizonte as luzes de barcos que provavelmente seriam de pescadores.
Após ter chegado ao meu destino, deitei-me no escaldante chão, atrevo-me a dizer que lá se quisesse, conseguia estrelar um ovo tão intensa era a temperatura a que se encontrava. Sentia-me confortável, pus-me a contemplar as estrelas e a lua, era como se estivesse no ambiente mais familiar do mundo, era como se o barulho das ondas e a luz vermelha do farol me hipnotizassem, tão grande era o bem estar, que uma nulidade me possuía o pensamento, talvez a maior embriaguez da mente seja de facto encontrar um vazio no pensamento, pelo menos assim, sei que os monstros não me vão engolir. Já estava de tal forma possuído pelo vazio que acabei por adormecer ali, segundo me recordo foi um dos sonos mais tranquilos de sempre, lembro-me de ter sido acordado por uns meros salpicos da água do mar na minha face que se formavam com a força das onde a embater nas rochas, senti também os primeiros raios de sol do dia passarem as minhas pálpebras como fantasmas apressados, levantei-me com alguma dificuldade, ainda não me encontrava totalmente recuperado da ressaca da noite anterior. Decidi dirigir-me a uma pastelaria próxima, sentia que possuía um odor a maresia justamente com um tanto de areia, parecia contagiar quem estava á minha volta, fiz o meu pedido, paguei e sai porta fora.
Para trás ficou um dos piores dias de sempre, agora vem aí um dia novo, uma continuação ou uma reviravolta me aguarda, só o tempo o poderá dizer.