domingo, março 11, 2007

Um mundo?

Eu já percorri o mundo. Já, várias vezes e apercebi-me dos seus contrastes, dos seres, da natureza, vi quase tudo.

Da primeira vez, foste tu quem me levou a ver o mundo. As pessoas eram todas iguais, aliás, contigo eu não via as pessoas. Ao teu lado sou um cego. Um cego que só te vê a ti. Mas ainda consigo ver os pormenores do mundo. Mas ainda assim eles são frinchas fininhas, daquelas das persianas mal fechadas. É assim o mundo aos meus olhos. O mundo aos rectângulos. Quando nós passávamos, os pássaros faziam-nos uma vénia e entoavam melodias “rockeiras”. Só para nós. quatro pequenas aves que tocavam: uma delas cantava de tal forma, que cortava o fôlego a quem o ouvia, soprava hallelujahs que punham qualquer um de queixo caído; outro era um habilidoso guitarrista, tinha uma “asa-guitarra”, ele estica a asa e com a outra toca suavemente nas cordas, da mesma maneira actuava a ave baixista; por fim tínhamos a ave baterista, tinha uma bateria de pedras e paus, desta saía um som como o das verdadeiras, ou melhor até. Era fantástica a actuação das aves. Depois da actuação das aves, nós continuávamos a andar, sempre a andar e víamos os meus rios de sangue, calmos, serenos.

As condições meteorológicas eram propícias às nossas caminhadas, o sol brilhava tanto tanto. Estava tudo no seu auge. Tu és a condicionadora de todos os estados. Estás comigo, está tudo perfeito. O teu toque é perfeito.

Passado algum tempo, eu voltei a percorrer o mundo. Mas desta vez, tu não vieste. Não vieste e estava tudo diferente. Desta vez os meus olhos estavam bem abertos, nada me escapou. Ao invés dos pássaros que nos apareceram no passado, desta vez foram corvos que apareceram, corvos rudes e sentenciadores. Olhavam-me de lado, agrediam-me e diziam-me palavras cruas. Palavras por cozinhar, duras. Palavras que doem. Palavras que criam danos no meu coração.

De seguida, continuei a minha caminhada, os meus rios de sangue, desta vez transbordavam, a maré encheu de tal forma, que destruiu as margens, tudo à volta se encontrava degradado. Eu estava morto.

O mundo nunca mais foi a mesma coisa. Mas se calhar o mundo não mudou nada, se calhar fui eu que mudei de mundo e tu não vieste, se calhar foi isso.

Talvez um dia, quando tu vieres, talvez tudo volte a ser como antes. Até lá, irei continuar a dormir, morto, a defrontar corvos orelhudos. A viver uma morte. Será eterno?

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu aprendi que o mundo nunca muda.
O que muda somos nós. O que muda é a forma como o vemos.

;*

6:25 da tarde  

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