sábado, abril 21, 2007

Ironia dos deuses.

Um dia disseram-me que era o super-homem. Contaram-me também que podia fazer tudo e mais alguma coisa. Quiseram-me fazer crer, que ser com um lenço com remendos, a fazer de capa, atado ao pescoço, faria de mim gente.

Ser ingénuo, caí na cantiga. Caí num poço. Num poço escuro e bem fundo. Local onde resido até hoje. Ainda é hoje o dia, que esforçadamente o tento escalar, mas acabo sempre por derrapar no musgo das paredes. Já caí tantas vezes de cabeça. Se viesse uma mão que me pudesse socorrer, era mais cómodo.

Os seres divinais da terra vagueiam lá em cima com classe. Como verdadeiros deuses. Ignoram a minha existência. Vêm regularmente buscar água ao meu habitat. Nunca me questionaram sobre a invasão que me faziam regularmente, mas eu também nunca lhes disse nada. Mas sentia uma tremenda vontade em fazê-lo. Repito: nunca disse nada mas queria. E dói, dói tanto tanto. A dor não se resume a receber-mos palavras que doem ou quando sentimos ausência de alguém. A dor também é não se poder fazer nada. Querer dizer palavras que estão presas no interior, e não poder. É o que dá, o medo à ira dos deuses. Eles podem punir-me eternamente. Mais eterno ainda.

Já ouve quem me sussurrasse ao ouvido: és o super-homem, podes sair desta, voando. Ingenuamente, tentei fazer uso do lenço remendado, por sinal não deu frutos nenhuns. Afinal, ser banal como os outros sou. Ainda dizem que não necessito de um propulsor para voar. Pura ironia dos deuses.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

a sua maneira, cada um e o super-homem. nao precisas da capa, safas-te apenas com a força de vontade ;)

devo dizer q adorei o texto :D

beijo *

9:05 da tarde  

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