quarta-feira, maio 30, 2007

Lá em cima a sentir.

Um dia andava eu perdido nos confins do subsolo. Eu não sei quanto tempo estive eu sem ver a luz do sol. Do dia. Da vida. Mas eu sei que foi muito tempo. Nós sentimos muito o tempo quando ele tem dor. Como o tempo me agravou a ferida e me fez sofrer, eu sei que foi muito tempo. Sim, geralmente o que dói dura uma eternidade a dissipar-se.

Porém, certo dia, eu não sei se foi o acaso ou se foram os deuses divinos que te trouxeram. Mas nesse dia lá apareceste, tu ser imune e belo, ser por quem os deuses suspiram, andaste lá em cima à superfície a vaguear a tua classe com passos contagiantes e serenos.

Ser observador e de boa vontade, foste dar comigo debaixo da terra, no local onde eu teimava em apodrecer e permanecia encurralado. Estendeste-me a mão e disseste: queres vir para aqui comigo, sentir, contemplar o sol? Mas eu já sentia tanto…

Agarrei a tua mão e sentei-me então ao teu lado, e enquanto te olhava nos olhos questionava-me se também sentirias. Quando voltava ao consciente ganhava a percepção de querer sentir mais, mais e mais…

segunda-feira, maio 21, 2007

Em chamas.

O vento que expeles suavemente pelo teus lábios,
é o vento que me congela.

O calor que não me dás,
é o calor que tens a mais em ti.

Vais arder, vais.
Tens calor a mais em ti,
esse é o calor que tu não me dás,
tens o calor que eu preciso ( para viver ) e o teu,
isso é superior ao que a sobrevivência pede,
é sobre humano.
Arde!

Enquanto ardes,
eu vou morrer com o gelo que me gela os ossos.
Vou cair, partir-me em pedaços.
Morrer.

sábado, maio 12, 2007

Como água.

Muitas vezes a mente prega-me partidas. Recordo-me de como era bom estar contigo. Eu era tão feliz. Era mesmo o tipo mais feliz do mundo. Eu nada sei do mundo, do que se passa. Mas eu sei que ninguém me batia, melhor, nada batia a tua perfeição.

Para mim todos os locais eram os melhores. Bastava a tua presença. Actualmente, esses mesmos locais são tão vazios, tão frios. Faz-me impressão enfrentar as ruas sem ti. Deixei de os conseguir enfrentar, tal foi o medo que me engoliu. Engoliu-me e não deixou restos, o guloso. Por outro lado, os teus restos continuam lá bem presentes, ou então sou eu que perdi a percepção e a sobriedade e é tudo uma camada de ilusões. De qualquer forma, sempre que passo pelas ruas. Vejo restos teus.

São tantas as saudades que sinto e que me dominam, que me destroem. O meu interior arde cada vez mais e grita um som devastador que é silencioso, é um grito desesperado, pesado, mas nunca ninguém o ouviu. No exterior sinto tanto frio, um frio tão gélido que me deixa imóvel. Sem esperança.

Sinto que vou derreter. Evaporar-me consequentemente.

quinta-feira, maio 03, 2007

Menti-me a mim mesmo na esperança de que os sucedimentos passados fossem agora miragens. Mas não. São lembranças tão reais. Aqui ainda residem imagens tão verdadeiras, tão vivas, que por momentos chego a perder a percepção da realidade. Mas depois os meus olhos captam a realidade. Tu não estás.

De cada vez que arregaço a manga da minha camisola, vejo que a ferida ainda permanece bem fresca, bem alastrada. Já tentei inúmeras vezes usar beta dine para ver se desanuviava a dor, parece que quanto mais uso curativos, mais a vejo a alastrar-se. Nua, inflamada e sem crosta.

O tom vermelho espelha o meu estado mortal de uma forma tão clara, tão notória, a cor da ferida contagiou-se por todo o meu corpo.

Tentei tanto seguir em frente sem usar os olhos da nuca da minha cabeça, mas são os meus olhos frontais que estão cegos. Por mais que tente não consigo mudar o meu rumo, muito menos mudar o que me vai na alma.

Acendi uma vela a fim de tentar iluminar o céu, ao invés disso, ele converteu-se num inferno. Acolhi-me na minha solidão.

Agora, tudo isso me deixa indiferente. De qualquer maneira partiste, para nunca mais voltar.

terça-feira, maio 01, 2007

E ele virou uma nova página.