Lá em cima a sentir.
Um dia andava eu perdido nos confins do subsolo. Eu não sei quanto tempo estive eu sem ver a luz do sol. Do dia. Da vida. Mas eu sei que foi muito tempo. Nós sentimos muito o tempo quando ele tem dor. Como o tempo me agravou a ferida e me fez sofrer, eu sei que foi muito tempo. Sim, geralmente o que dói dura uma eternidade a dissipar-se.
Porém, certo dia, eu não sei se foi o acaso ou se foram os deuses divinos que te trouxeram. Mas nesse dia lá apareceste, tu ser imune e belo, ser por quem os deuses suspiram, andaste lá em cima à superfície a vaguear a tua classe com passos contagiantes e serenos.
Ser observador e de boa vontade, foste dar comigo debaixo da terra, no local onde eu teimava em apodrecer e permanecia encurralado. Estendeste-me a mão e disseste: queres vir para aqui comigo, sentir, contemplar o sol? Mas eu já sentia tanto…
Agarrei a tua mão e sentei-me então ao teu lado, e enquanto te olhava nos olhos questionava-me se também sentirias. Quando voltava ao consciente ganhava a percepção de querer sentir mais, mais e mais…